sábado, 14 de março de 2015

Nascimento

Ao passar do tempo a ideia começou a ser digerida e já não causava tanta dor. A ginecologista continuou apreensiva sobre o prognóstico e preferiu não optar, porém me passou uma referência de neuropediatra. A consulta me custaria benditos R$ 450,00 e achei mais benéfico ao meu bolso e a minha filha se fosse ir assim que ela nascesse (santo erro, mais para frente irão entender o porque).

Chegou a hora de começar a planejar o parto, eu estava tão vegetativa que nem dava muita atenção que estava chegando a hora. Ainda não tinha acertado o quarto direito, não havia lavado as roupas, não tinha ajeitado a mala e ainda não sabia aonde seria o parto. A ginecologista como sempre precavida, me sugeriu ter o parto aonde tivesse Unidade de Tratamento Intensivo Infantil (a da cidade onde moro estava fechada), deixou bem claro que a Amy estava bem de saúde e que provavelmente não iria ser necessário, mas que não deveríamos contar só com isso e ficar próximo de uma UTIN caso algo desse errado.

Fui para a cidade vizinha em busca de um hospital com UTIN primeiramente visando um procedimento particular com medo de médicos do hospital público me largar lá e piorar a situação. A ginecologista do hospital (muito bem referenciada por sinal) me atendeu e disse com sinceridade que eu não deveria tentar um parto normal, já que a Amy já possuiu uma anomalia no cérebro e o trauma do parto poderia acarretar outra coisa, além de a ultima ultrassom (fiz uma uma semana antes desta consulta) estar indicando um bebê de 3.3kg. Ouvindo isso entrei em pânico (medo da cesárea), era inacreditável que ela estivesse com esse peso todo, eu não tenho estrutura física para gerar um bebê deste tamanho e tampouco sentia que ela estava com esse peso. Aproveitei a minha visita ao hospital e fiz o orçamento, constatando que cada DIA na UTIN seria 4 mil reais (fora o procedimento do parto) definitivamente a minha filha não poderia ficar mais que um dia na UTIN de acordo com minhas economias, descartando assim a possibilidade dela nascer ali.

Bom, só me restou o hospital público e rezar. Esperei que as expectativas da minha ginecologista estivessem certas, ela acreditava que por ser um parto de risco os médicos não iriam "me largar". Lá fui eu visitar o hospital morrendo de medo.

A administração do hospital liberou para que eu pudesse levar o médico que eu quisesse e realizar o procedimento de uma forma particular. OBA!!! Já fui ligando para minha ginecologista para a gente acertar isso!!! Isso era uma sexta-feira, 05 de Julho de 2014 e ela ficou de me dar um retorno na segunda. No sábado acordei cedo, fui ao centro da cidade e fiz muitas compras pro meu chá de bebê que seria no dia seguinte. Andei muito, muito mesmo, fiz muito esforço físico. Cheguei em casa com as pernas inchadas e dores nos quadris, nada que eu já não sentisse quando fazia esforço, deitei e esperei o dia seguinte.

 No domingo tudo foi ótimo, preparei os comes e bebes junto de minha mãe, as duas da tarde iniciou o evento que se estendeu até as seis da tarde. A dor nos quadris ainda persistia, mas ignorei. Comi bobeiras durante o dia todo quando deu sete da noite meu estômago começou a reclamar e resolvi deitar (sem jantar). Entre alguns cochilos e pescadas, adormeci as 11 da noite e acordei meia noite com uma dor insuportável nos quadris. Rolei até as três da manhã na cama, foi quando eu decretei definitivamente um início de trabalho de parto. E AGORA??? As roupinhas tudo por lavar!!!
Fui pro banheiro e comecei lavar as principais para uma estadia e saída de maternidade, mas a dor não deixou eu lavar todas elas. Andava para lá e para cá o tempo todo, incomodada com a dor. Deu 5 horas da manhã não aguentei mais e fui no hospital para uma análise do médico. O exame de toque revelou que eu já estava com 4 centímetros de dilatação e antes dele me mandar entrar pro hospital eu disse que não poderia ter o bebê ali porque era uma gravidez de risco e precisava de uma UTIN. E ele disse: CORRE!! Ou terá seu bebê na estrada!!

No medo nem pensei nas roupas molhadas recém lavadas penduradas na grade do ventilador para secar e parti para a outra cidade. Logo ao chegar, as sete da manhã, minha bolsa estourou na sala da recepção sendo logo encaminhada para a sala de avaliação do tempo que o parto estava e quanto iria demorar. O hospital é utilizado por residentes de medicina e quem me atendeu foi uma residente, por se tratar de um caso totalmente diferente para ela, chamou outros dois residentes e mais o médico responsável para a minha avaliação. A principio o médico disse que não poderia me aceitar no hospital, pois de acordo com ele, não era referência em bebês com má formações e ainda mais cerebral. Se precisasse de uma cirurgia rápida ele não havia neurocirurgião na cidade para ajudar, me sugerindo ir para a capital, Vitória, realizar o procedimento no hospital de referência. SÓ podia ser BRINCADEIRA que ele achava que eu iria dirigir mais de 100km, pegar muitoooo engarrafamento, com 4cm de dilatação e chegar sã e salva no hospital que eu nem sabia aonde era. HA...mesmo morrendo de dor me deu vontade de rir.
Com paciência eu expliquei que os sinais vitais dela estava tudo perfeito e funcionando, que o cérebro dela estava no perímetro normal, que ela não apresentava qualquer outra anomalia que não fosse APENAS uma porcaria de membrana que não foi formada. Era impossível de acreditar que uma membrana iria fazer minha filha entrar em cirurgia de emergência estando com todo o sinal de que era saudável. Disse sobre o parecer da minha ginecologista e depois de muito pressionar, ele cedeu que eu ficasse, mas eu assinaria um termo de responsabilidade em cima daquela decisão e que estava ciente das consequências da falta de um neurocirurgião.

Isso já estava beirando as 10 horas da manhã e eu morrendo de dor.

Na sala de parto, já com 5cm de dilatação, o residente responsável pela área disse que em pouco tempo iria administrar a oxitocina para ajudar na dilatação. ÓTIMO, pensei comigo, pois não comia desde as cinco horas da tarde do dia anterior e estava muito fraca depois de uma viagem regada a 11 horas de parto com MUITA dor.

Deitada na maca eu lembrei das palavras da ginecologista do hospital particular que havia visitado e comentei com o residente sobre ela achar mais viável uma cesárea. Ele respondeu dizendo que eu estava com o útero perfeito para um parto normal, dilatação e que seria um parto normal. Nova onda de pânico. Onze horas, meio dia, e nada de oxitocina, minhas forças se esvaindo. Nesta altura do campeonato entra um padre, ou pastor não sei, e pede para orar por mim. MEU DEUS!!!! (lembrei dos filmes onde os pacientes terminais recebem uma visita religiosa para unção final) Pensei pronto, eu to morrendo!!! Eles já estão me ungindo porque estou para morrer!!! Comecei a chorar, comecei a achar que iria morrer, não tinha mais forças nem para fazer força, nem para conversar. 13 horas em trabalho de parto, na esperança da oxitocina, o medo da minha filha morrer no parto normal, o medo de morrer, lembrar que tinha meu filho em casa e eu não me despedi dele quando sai o que seria dele se eu morresse. E as minhas suspeitas sobre o sistema público se concretizou, eles me largaram para ter um parto totalmente natural.

Dando quase duas horas da tarde uma boa alma divina resolveu por a oxitocina. Não deu dez minutos depois e minhas dores aumentaram (é inacreditável que ainda dava para aumentar), uma vontade imensa de fazer força. Avisei a enfermeira da sala e ela apenas disse que não era hora, que seria lá pelas quatro horas da tarde. Eu levantava, andava, banho quente, vontade de fazer cocô que na verdade era ela já querendo vim. Deu mais uns dez minutos e eu tornei a falar com ela que estava com muita vontade de fazer força. Ela para me acalmar (pois estava com medo de defecar na maca) fez um bolo de tecidos e pôs para caso saísse algo, mais uns dez minutos e eu já não estava suportando mais e desisti de avisar que estava na hora, comecei a fazer força sozinha AI ela viu que a cabeça dela já estava encaixada.

Parto foi ótimo, a mesma dor característica de um trator puxando uma corda amarrada na cintura quebrando todos os osso, você tem a certeza que vai perder a cintura, que ela vai sair, soltar. A diferença é que desta vez eu estava com 15 horas suportando uma dor esmagadora, meu primeiro filho teve apenas 1 hora e 40 minutos, minha vontade e disposição para fazer força era MUITO maior. Com muito grito e muita dor, minha filha nasceu!! Linda, normal, saudável e perfeita.
Na sala de parto tinha uma plateia de médicos, residentes, enfermeiros, pediatra da utin, pediatras de plantão, enfim, todo mundo já estava esperando levar minha filha para a UTIN, mas como eu havia dito a todos, ela estava saudável :D